Evento elegeu a historiadora Paula Coradi como a nova presidente do partido. Prioridade da nova gestão é eleger Boulos prefeito de São Paulo e reeleger Edmilson Rodrigues em Belém
O Congresso Nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) terminou neste domingo (1) com a eleição da historiadora Paula Coradi para presidente da legenda, candidata da chapa “Todas as Lutas”, que representa o grupo político liderado pelo deputado federal e pré-candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos (SP). Ela vai comandar a legenda até 2026. A chapa, que apoia o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, teve 300 votos (67,1%) contra os 147 votos (33%) do grupo intitulado “Bloco Democrático de Esquerda”, que prega a independência do partido e tem como uma de suas líderes a também parlamentar Sâmia Bomfim (SP).
O encontro foi marcado pela tensão entre as diferentes correntes partidárias e teve que ser interrompido após uma briga entre militantes que descambou para a troca de socos. A direção do partido irá investigar o ocorrido e punir os responsáveis. A eleição de Coradi é uma vitória das militâncias Primavera Socialista e Revolução Solidária, tidas como “menos radical”. As vertentes pregam uma relação próxima com o Partido dos Trabalhadores (PT) e o apoio da legenda petista a candidaturas municipais do PSOL na próxima eleição, como a de Guilherme Boulos na cidade de São Paulo.
“Temos muitos desafios pela frente e espero que o PSOL continue sendo a grande referência para os movimentos sociais, indígenas, antirracistas, de mulheres, e que pense a luta ambiental em que exista pessoas no território, não só como uma preservação crua da natureza”, disse a historiadora, em seu primeiro discurso como presidente nacional do PSOL.
“Eleger Guilherme Boulos a prefeito de São Paulo vai ser uma das grandes tarefas e desafios que o PSOL vai se empenhar e vai fazer de tudo para produzir essa vitória política que, além de ser uma vitória enorme do PSOL, vai ser uma vitória enorme para toda a esquerda brasileira”, declarou Coradi logo após o fim do Congresso, em entrevista à TV PSol. Ela também afirmou que o partido planeja reeleger Edmilson Nogueira, prefeito de Belém (PA), e que tem “muito boas possibilidades” com os deputados federais Tarcísio Motta, pré-candidato no Rio de Janeiro, e Talíria Perrone, pré-candidata a prefeita de Niterói (RJ).
A pré-campanha de Boulos foi alvo de críticas internas de parte do PSOL ao anunciar que terá como marqueteiro Lula Guimarães, nome responsável pelas campanhas eleitorais de João Doria e Geraldo Alckmin em 2016 e 2018, respectivamente. Enquanto isso, o PT confirmou apoio à candidatura do psolista à Prefeitura de São Paulo em 2024, em cumprimento ao acordo firmado para que ele desistisse de se candidatar ao governo do Estado na última eleição e apoiasse o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP).
A vertente do PSOL derrotada na eleição que defende, entre outros pontos, a independência do partido ao governo Lula dentro do Congresso Nacional, acusava ainda o grupo de Boulos de querer mudar o regimento para tentar controlar os cargos mais importantes na direção da legenda. “Estão fazendo uma manobra que nos tira espaço. Querem dar um golpe na proporcionalidade da direção do partido”, disse Sâmia. “O PSOL precisa de independência para cobrar o governo a agir contra a reação do Congresso às posições progressistas do STF”, completou a deputada.
No evento, no entanto, ficou definido que a composição dos postos será proporcional entre os diferentes grupos, usando como critério a quantidade de votos da chapa na eleição deste domingo. Integrante da vertente tida como “mais a esquerda” dentro do partido, a deputada Fernanda Melchionna comemorou o acordo. “Venceu a democracia partidária após nossa luta para que não tivesse uma mudança de regimento do partido que inviabilizaria a pluralidade partidária”, afirmou.
Confusão
As agressões ocorreram um pouco antes do encerramento da votação. Nos grupos de Whatsapp da legenda, os integrantes dos partidos trocaram acusações de racismo, golpe e truculência. “Durante o 8º Congresso Nacional do PSOL houve um desentendimento entre dois militantes que terminou por acirrar os ânimos e interromper o andamento do Congresso por alguns instantes. A direção do PSOL lamenta o ocorrido. O caso está sob apuração das instâncias responsáveis. O incidente não alterou o curso do encontro que se encerrou elegendo a nova direção e aprovando todas as resoluções previstas”, escreveu em nota o ex-presidente do partido, Juliano Medeiros.
A deputada Sâmia Bomfim relatou o momento da confusão. De acordo com ela, após a resolução ter sido barrada, um militante teria partido para cima de um filiado que integra o mesmo seu grupo, o mesmo de Melchionna. “Eles não conseguiram imprimir este golpe e saímos com algo que considero fundamental: a diversidade de posições internas e peso político dos grupos respeitados nas instâncias partidárias”, disse. Antes da divulgação do resultado, foi veiculado um vídeo em homenagem a Juliano Medeiros, que ocupou o posto na Executiva Nacional do PSOL pelos últimos seis anos. Juliano faz parte do grupo Primavera Socialista, que integra a chapa vencedora.
O evento ficou marcado ainda por uma briga entre militantes de vertentes distintas do partido, que chegou as vias de fato e precisou ser separada por outros integrantes da legenda. O motivo do conflito foi uma fala de um dos envolvido sobre Leon Trotsky, revolucionário russo assassinado em 1940 e que é reverenciado por alguns grupos dentro do PSOL. No momento da agressão, um homem da plateia subiu ao palco e desferiu um soco em outra pessoa. O autor do soco foi identificado como Rafael. Ele faz parte da Comissão Executiva do partido no Rio de Janeiro. A vítima do soco foi o vereador de Porto Alegre (RS) Roberto Robaina. Em nota, o partido disse que o incidente está sendo apurado internamente.
A batalha de hinos de guerra entres os grupos Primavera Socialista e o Movimento Esquerda Socialista também foi destaque e chegou a ser comentário entre observadores estrangeiros que acompanharam o Congresso. Independente da rixa interna, a animação dos militantes foi elogiada por parlamentares do partido, como o deputado federal Chico Alencar (RJ). “O PSOL é ainda um partido que busca equilíbrio entre as diferentes forças. Mas hoje se constituiu uma maioria definida, que não pode significar esmagamento da minoria. Por isso a importância de a composição das direções levar em consideração o peso de votos de cada chapa e de cada corrente dentro dessas chapas, para que haja uma proporcionalidade qualificada na direção executiva”, destacou.
(Foto: Reprodução/X)