“O que eles conseguiram, até agora, com a CPMI, foram elementos para indiciá-lo [Bolsonaro]. E esse indiciamento vai colocá-lo como o responsável pelo comando do processo golpista no Brasil”, declarou Correia (PT-MG), em conversa exclusiva com o Opinião em Pauta.
Para o deputado Rogério Correia (PT-MG), vice-líder do governo na Câmara, os bolsonaristas estão perdidos e a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas de 8 de janeiro, solicitada e criada por essa ala política de apoio ao ex-presidente, já se confirmou como um verdadeiro tiro no pé. Para o petista, que é um dos membros mais ativos da CPMI, os quase cinco meses de investigação do colegiado já foram suficientes para reunir provas para indiciar e prender Jair Bolsonaro como o grande responsável pelo comando do processo golpista no Brasil, desde o fim das eleições de 2022, quando o povo brasileiro consagrou Luís Inácio Lula da Silva (PT) para o terceiro mandato de presidente do Brasil.
“Os bolsonaristas estão perdidos e já viram que deram um tiro no pé. O que eles conseguiram, até agora, com a CPMI, foram elementos para indiciá-lo [Bolsonaro]. E esse indiciamento vai colocá-lo como o responsável pelo comando do processo golpista no Brasil”, salientou o parlamentar em conversa exclusiva com o Opinião em Pauta. “Somado a isso aí, no interior dessa investigação, ainda se descobriu corrupção no processo. Como, por exemplo, o caso das joias e do PIX. Também estamos entrando no financiamento e na corrupção individual do ex-presidente e da Michelle. A Polícia Federal já pediu a quebra de sigilo e acho muito importante que o Supremo e a Polícia Federal recolham o passaporte do Bolsonaro porque ele pode tentar uma fuga. Então, ele será indiciado com esses dois crimes: de corrupção e também de tentativa de abolição do estado democrático de direito”, acrescentou.
O deputado destacou que o cerco em torno do ex-presidente Bolsonaro está se fechando. Autor do requerimento de convocação de Walter Delgatti Neto à CPMI, Rogério Correia classificou o depoimento do hacker como revelador e “bombástico”. Durante a oitiva, Delgatti disse ter sido procurado pelo então presidente Jair Bolsonaro para tentar burlar o sistema eleitoral brasileiro. “Eu acho que foi um depoimento bombástico e assim eu esperava, por isso fui o autor, inclusive, do requerimento. Algumas coisas se comprovam. Era impressionante como Bolsonaro queria de todo jeito desmoralizar o processo eleitoral. E as pessoas vieram todas imbuídas do espírito que teve falsificação eleitoral que ele [Bolsonaro] alimentou durante todo o período. Nós escapamos por pouco, porque, se realmente algo desse tipo acontece, pode ser que os nervos ficassem ainda mais irritados no Brasil e que nós tivéssemos um processo ainda mais violento.”
O depoimento do hacker levou a aprovação, pela maioria da comissão, na última quinta-feira (24), mesmo dia dessa conversa do deputado com a reportagem do Opinião em Pauta, da quebra do sigilo bancário, fiscal e telemático da deputada Carla Zambelli. Correia ressalta que, em ato contínuo, também foi aprovada mais uma convocação do tenente coronel Mauro Cid e apuração de denúncias de corrupção envolvendo o ex-presidente e Michelle Bolsonaro. “Isso é muito importante, porque ele não falou nada e pode ser que queira falar agora. E, depois que ele veio se descobriu muito mais coisa em relação a ele. Até que ele, na cadeia, agora, movimentou recursos de dinheiro internacional. Tem que saber como é que ele conseguiu fazer essa façanha. Quem o ajudou?”, questiona.
O parlamentar também falou sobre a disputa interna dentro da CPMI para incluir o caso da venda de joias por aliados de Jair Bolsonaro no bojo das investigações. Enquanto os membros governistas cobram essa apuração, o presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA), resiste para que as investigações fiquem restritas aos atos de 8 de janeiro e já indicou que não pautará requerimentos relacionados às joias. Paralelo a este impasse, Correia e o deputado Túlio Gadelha (Rede-PE) retomaram a coleta de assinaturas para abrir uma nova comissão para analisar o desvio e venda dos objetos de valor milionário. Até a semana passada, os parlamentares já tinham recolhido quase 150 assinaturas.
“Então, o presidente da CPMI diz que não quer investigar, mas nós já estamos investigando. Porque não tem como separar um crime do outro. Se você está fazendo investigação de um crime de tentativa de golpe e ali aparece corrupção, você não pode separar e dizer: ‘a corrupção eu não vou olhar’. Então, ela está sendo olhada em conjunto. Agora, em relação a CPI das joias, nós estamos tentando, ainda, recolher assinaturas. Se vier, a gente aprofunda, posteriormente. Mas no que concerne ao que nós já descobrimos das joias, com certeza estará no relatório”, avaliou.
Por fim, o deputado Rogério Correia comentou sobre a sua expectativa em relação aos depoimentos marcados para a próxima quinta-feira (31), em que a Polícia Federal vai ouvir, simultaneamente, no inquérito que apura a venda ilegal de joias recebidas pelo ex-presidente, além de Jair Bolsonaro; a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro; o ex-ajudante de ordens coronel Mauro Cid; o pai dele, general da reserva Mauro César, Lourena Cid; os assessores de ex-presidente Marcelo Câmara e Osmar Crivellati; e os advogados Fabio Wajngarten e Frederick Wassef. Segundo a polícia, a estratégia é para evitar uma combinação de respostas.
“Eu li o que eles já falaram. E, agora, vão falar de imediato. Cada um tem uma versão, um pouco diferente. Se todos falarem o que falaram até hoje, pelo menos, dois mentirosos tem ali. Então, se seis falarem o que já disseram, até agora, dois vão presos, porque dois mentiram. Agora, se eles inventarem mais história pode ser que mais outros, além dos dois, sejam presos também. Um deles é o principal. E ele já está preocupado, até se internou. Toda vez que as coisas apertam Bolsonaro se interna. Sabe-se lá que grau é essa doença, a gente até desconfia, mas que melhore e tenha saúde porque a Papuda o espera, isso não deve demorar muito”, concluiu o deputado.
(Foto: Gustavo Bezerra)
