Texto de Bolsonaro insinuava fraude na eleição e tinha críticas ao ministro Luís Roberto Barroso. Empresário Meyer Nigri, fundador da construtora Tecnisa, responde no WhatsApp ter repassado para “vários grupos!”
A Polícia Federal encontrou no celular do empresário Meyer Joseph Nigri, fundador da Tecnisa, mensagens enviadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro com conteúdo falso, ataques a ministros do Tribunalk Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao processo eleitoral brasileiro. E um pedido para que o interlocutor as “repasse ao máximo”. O material foi enviado logo em seguida ao grupo “Empresários & Política” no WhatsApp, cujos integrantes foram investigados por “ilícita defesa de um golpe de Estado”.
A descoberta consta de decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou o arquivamento da investigação sobre seis dos oito empresários bolsonaristas que foram alvo da apuração, iniciada em agosto do ano passado. Moraes atendeu o pedido da PF para prorrogar o prazo da investigação sobre Nigri, por causa da sua relação com Bolsonaro, e Luciano Hang, uma vez que o dono da Havan se recusou a fornecer as senhas dos aparelhos apreendidos.
“A dilação de prazo solicitada pela Polícia Federal é justificada, uma vez que, em relação ao investigado MEYER JOSEPH NIGRI há necessidade da continuidade das diligências, pois o relatório da Polícia Federal ratificou a existência de vínculo entre ele e o ex-Presidente Jair Bolsonaro, inclusive com a finalidade de disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à Democracia e ao Estado Democrático de Direito, utilizando-se do mesmo modo de agir da associação especializada investigada no Inq. 4874/DF”, decidiu o ministro, em referência à investigação de milícias digitais antidemocráticas.
Os seis empresários que deixaram de ser investigados, por “ausência de justa causa”, foram Afrânio Barreira Filho, dono do Coco Bambu; André Tissot, da Sierra Móveis; Ivan Wrobel, da W3 Engenharia; José Isaac Peres, da Multiplan; José Koury, do Barra World Shopping e Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii.
A mensagem consta em um relatório da Polícia Federal (PF) sobre conversas de Meyer Nigri, que recebeu o texto em junho do ano passado. Bolsonaro tinha o hábito de mandar a mesma mensagem para diversos contatos, o que indica que o mesmo texto possa ter sido enviado para outras pessoas. Em junho do ano passado, um contato identificado como “Pr Bolsonaro 8” — que a PF afirma ser do ex-presidente — enviou a Nigri uma mensagem afirmando que Barroso cometeu “interferência” e “desserviço à democracia” por atuar contra a adoção do voto impresso. O texto ainda afirma, sem provas, que o Datafolha estaria “inflando” os números do então pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva para “dar respaldo” ao TSE.
Ao final, a mensagem dizia: “Repasse ao máximo”. Nigri, então, respondeu: “Já repassei pra vários grupos!”.
A PF afirma que a mensagem tinha “conteúdo não lastreado ou conhecidamente falso (fake news), atacando integrantes de instituições públicas especialmente Ministros do STF, desacreditando o processo eleitoral brasileiro”. O trecho da conversa entre Bolsonaro e Nigri foi utilizado como justificativa pelo ministro Alexandre de Moraes para prorrogar uma investigação contra o empresário.
O ministro concordou com um pedido da PF e considerou que o órgão “ratificou a existência de vínculo entre ele (Nigri) e o ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive com a finalidade de disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à Democracia e ao Estado Democrático de Direito”.
Defesa
O advogado Alberto Toron, que defende Nigri, afirmou que o empresário disse à PF que não tem nenhuma plataforma para disseminar notícias “em massa”, porque não possui redes sociais como Facebook ou Instagram. “Nós respeitamos o entendimento do ministro, mas já adianto que, com relação ao senhor Meyer Nigri, ele quando depôs na Polícia (Federal) deixou muito claro que não tem Facebook, não tem Instagram, não tem absolutamente nenhuma plataforma de disseminar notícias em massa. Nunca fez”, disse.
Toron relata que o empresário admitiu repassar mensagens de Bolsonaro, mas afirmou que fazia isso para “fomentar a discussão” e que não necessariamente concordava com o conteúdo. “O que ele fez, sim, confessadamente, foi em grupo ou outro do qual ele faz parte, colocar notícias e mensagens que ele havia recebido do presidente e deixou expresso que não necessariamente anuía ou concordava com essas mensagens, tendo deixado claro também que quando colocava fazia para fomentar discussão”, explicou.
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