Governistas articulam convocações de Wassef e Lourena Cid na CPMI dos atos golpistas

Base aliado do governo aumenta pressão e tentam driblar resistência de presidente do colegiado para incluir tema na apuração

 

Parlamentares da base aliada do governo na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas do 8 de janeiro articulam uma série de convocações para aprofundar as investigações sobre o suposto esquema, alvo de inquérito da Polícia Federal (PF), de venda de joias e outros itens dados a Jair Bolsonaro na condição de presidente da República. Além dos requerimentos para ouvir o depoimento de personagens que estão na mira da PF, há também pedidos de recolhimento dos passaportes do ex-chefe do Executivo e de sua mulher, Michelle Bolsonaro.

Os governistas querem ver na comissão o general Mauro César Lourena Cid, o tenente Osmar Crivelatti e o advogado Frederick Wassef. Os três foram alvos de mandados de busca e apreensão na sexta-feira, e a PF investiga o papel de cada um no suposto esquema. Bolsonaro e Michelle também são alvos de requerimentos para que prestem depoimentos, mas, mesmo na base, há uma avaliação que o assunto não deve ser tratado de forma açodada e que, caso haja acordo para chamá-los, seria algo a ser feito apenas quando a CPI entrar na reta final. Eles também querem a quebra de sigilo fiscal de Bolsonaro e sua mulher, o que também foi pedido pela PF.

O presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), resiste a apurar o esquema e considera que entrar no assunto seria fazer da comissão um “palco de discussões estranhas” ao 8 de janeiro. Há depoimentos marcados para terça e quinta-feira, mas ainda não existe previsão de votação de requerimentos. Por outro lado, o governo tem maioria no colegiado e faz questão de entrar no assunto.

O deputado Rubens Júnior (PT-MA) disse que a base do governo vai ter que “construir essas convocações” para superar a discordância de Maia. No requerimento em que pede a convocação de Wassef, o parlamentar afirma que um dos objetivos da CPI é apurar os “instigadores” e a cadeia de acontecimentos que resultou no 8 de janeiro, o que inclui a arrecadação de recursos via negociações de itens de luxo. Ontem, Wassef afirmou que “nunca vendeu, ofereceu ou teve posse de nenhuma joia, tampouco auxiliou vendas, de forma direta ou indireta”. A PF cita a atuação do advogado na recompra de um Rolex — a existência do item foi revelada, e o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a devolução.

Lourena Cid é pai do tenente-coronel Mauro Cid, que foi chefe da ajudância de ordens da Presidência na gestão de Bolsonaro e já esteve na CPI, mas optou por ficar em silêncio. Depois da revelação de que o ex-assessor tentou vender um Rolex recebido por Bolsonaro, a base do governo começou a pressionar para que ele seja reconvocado. Também existe um requerimento para convocar Maria Farani, ex-assessora que auxiliou Cid a redigir uma mensagem em inglês para procurar compradores para o relógio. Na sexta, o Exército afirmou que “não compactua com eventuais desvios de conduta de seus integrantes”.

O deputado Rogério Correia (PT-MG) discorda do presidente do colegiado e avalia que investigar o assunto tem conexão com os atos golpistas. Ele é autor de um pedido de CPI, esta limitada à Câmara, para investigar o episódio das joias. A solicitação tem 111 das 171 assinaturas necessárias e foi feita em março, logo após o caso ser revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, e ganhou impulso após a operação da PF da semana passada. O deputado, no entanto, avalia que a CPI mista também tem que se debruçar sobre o tema.

(Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

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