Apesar da resistência de um grupo dentro do PT, deputado federal, que lidera as pesquisas recentes, tem a garantia da cúpula petista de que será o candidato apoiado pelo partido à Prefeitura de São Paulo em 2024. “Vamos construir uma ampla frente progressista em São Paulo”, celebra Guilherme Boulos.
Thiago Vilarins – A corrida eleitoral para a Prefeitura paulistana em 2024 já tem um nome praticamente certo: o deputado federal Guilherme Boulos (PSol). Apesar da resistência de uma ala do PT, que defende que o partido é grande demais para abrir mão de uma candidatura própria na capital paulista, a cúpula petista decidiu ignorar os questionamentos e já bateu o martelo de que o psolista deverá encabeçar a chapa de esquerda que vai tentar retornar ao Palácio do Anhangabaú.
Fenômeno esquerdista de popularidade, Boulos desbancou o PT em 2020, que ficou de fora do segundo turno das eleições na capital pela primeira vez na história, e foi derrotado pelo então prefeito Bruno Covas (PSDB). Dois anos depois, Guilherme Boulos despontou como o deputado federal mais votado por São Paulo, com 1.001.443 votos, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
E esse passivo eleitoral se mostra bem vigoroso neste ano, tanto que a pesquisa eleitoral mais recente, divulgada na última terça-feira (18) pelo Instituto Gerp, aponta o deputado do PSol na liderança para se tornar o próximo prefeito de São Paulo, com 26% das intenções de voto – o segundo colocado, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, que se tornou inelegível no inicio este mês em julgamento do TSE, surge com 18%.
Em conversa com a reportagem do Opinião em Pauta, Boulos destacou que faltam aparar algumas arestas para que o seu nome seja consolidado como candidato desta frente PT-PSol e que ele tem a garantia desta aliança do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o esforço da presidenta do partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PR). “O presidente Lula já se colocou em defesa da nossa candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2024. A presidente Gleisi Hoffmann fez ontem (quarta-feira, 19) declarações muito fortes nesse sentido. Acredito que nós vamos construir uma ampla frente progressista em São Paulo”, disse.
As declarações citadas por Boulos se refere ao enquadramento que Gleisi fez, com respaldo de Lula, à bancada petista contrária ao nome de Boulos. “Tergiversações agora só ajudam o atual prefeito [Ricardo Nunes] candidato à reeleição e a direita”, disse. Na reunião do grupo de trabalho eleitoral do partido do dia 27 de junho, Gleisi foi questionada sobre a solidez do acordo com Boulos e também sobre os acertos em prol da reeleição dos prefeitos do Rio, Eduardo Paes (PSD), e do Recife, João Campos (PSB).
Nessa reunião, descrita como dura, Gleisi lembrou ter acompanhado a construção do pacto pelo qual Boulos abriu mão da disputa ao Palácio dos Bandeirantes
no ano passado, em favor da candidatura do hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Além do próprio Haddad, esse acerto foi avalizado por Lula, à época candidato à Presidência da República. Em nenhuma outra cidade a articulação de aliança para sucessão municipal está tão avançada.
“Esse acordo foi amplamente publicitado. Ninguém, nenhum dirigente do partido se levantou contra. Agora vêm questionar? Esse tipo de questionamento, tergiversação, só serve ao atual prefeito, que é candidato à reeleição. Serve à direita”, disse Gleisi, ressaltando que Ricardo Nunes é candidato dos bolsonaristas. Para Gleisi, essa é uma oportunidade de reversão do quadro em que a direita está dominando. Ainda segundo ela, o PT não tem nome natural para a disputa. “Não tem outro nome que tenha a estatura do Boulos para disputar.”
Cozinhas Solidárias
A conversa do Opinião em Pauta com o deputado Guilherme Boulos foi no fim da tarde de quinta-feira (20), no Palácio do Planalto, logo após um momento muito significativo para o parlamentar. Ele interrompeu o seu descanso neste recesso parlamentar e retornou à Brasília a pedido do presidente Lula para participar da cerimônia de sanção do novo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que, de novidade, teve a inclusão do Cozinha Solidária, o primeiro projeto de Lei apresentado pelo parlamentar do PSol, desde que ele assumiu o seu mandato, em fevereiro deste ano.
“É uma política que se iniciou na pandemia sem apoio do Estado. Com organizações da sociedade civil, movimentos sociais, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)… montando cozinhas nas periferias, onde as pessoas mais precisavam, para distribuição de alimentos. E, agora, felizmente, com muito orgulho, ver isso virar política pública nos seis primeiros meses de mandato” destacou, Boulos.
Com conceito complementar ao do PAA, o Cozinha Solidária tem por fundamentos incentivar a agricultura familiar, a pesca artesanal, a aquicultura e a carcinicultura. Além de contribuir para o acesso à alimentação, o programa leva em conta que a maioria das pessoas que passam fome no Brasil vive em centros urbanos. Assim, equipamentos como cozinhas solidárias, bancos de alimentos e restaurantes comunitários são um reforço para garantir a segurança alimentar. O Governo Federal já apoia algumas dessas iniciativas e está mapeando as redes de restaurantes comunitários, cozinhas solidárias, bancos de alimentos, equipamentos de recepção e distribuição de alimentos.
A iniciativa determina que, sempre que possível, um mínimo de 30% das compras públicas de gêneros alimentícios seja direcionado à aquisição de produtos de agricultores familiares e de suas organizações. O projeto prevê, ainda, que 30% do valor para aquisição de alimentos do Programa Cozinha Solidária seja destinado a pequenos agricultores.
Segundo Boulos, o governo deve implementar nos próximos meses alguns protótipos da cozinha solidária, com o objetivo de dá visibilidade a proposta e garantir recursos no orçamento do próximo ano. “Eu conversei com o ministro Wellington Dias (ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do Brasil) agora há pouco para já, a partir de agosto, ver se a gente faz os primeiros pilotos de cozinha solidária como política pública no Brasil. Para que entre com tudo no orçamento do ano que vem e possa ser uma política mais vigorosa”, disse.
Confira a breve entrevista:
Deputado, esse é um momento muito especial para o senhor, o seu primeiro projeto de Lei apresentado na Câmara dos Deputados se tornou uma política de governo. Do que trata essa proposta sancionada hoje?
O Programa de Aquisição de Alimentos, o PAA, é um programa de iniciativa do Governo Federal, que já existia desde 2003, e o presidente Lula, agora, retomou como várias políticas públicas que foram encerradas pelo governo anterior. É um programa que consolida uma integração de políticas governamentais com a pequena produção. A novidade é que nós incluímos esse meu primeiro projeto de lei como deputado federal: a política pública de cozinhas solidárias. É uma política que se iniciou na pandemia sem apoio do Estado. Com organizações da sociedade civil, movimentos sociais, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)… montando cozinhas nas periferias, onde as pessoas mais precisavam, para distribuição de alimentos. E, agora, felizmente, com muito orgulho, ver isso virar política pública nos seis primeiros meses de mandato.
Na prática, como vão funcionar as Cozinhas Solidárias como políticas de governo? Pode-se dizer que é o fim da tenebrosa época da fila por ossos no Brasil?
Nós esperamos que acabe. É o que estamos tentando fazer. O que a política pública vai fazer? Pelo PAA vai comprar alimento da agricultura familiar, do pequeno agricultor, e, através das cozinhas solidárias, vai fazer com que esse alimento seja distribuído, como refeição, para as famílias que mais precisam nas regiões mais carentes do país. É um dos pilares do combate à fome do governo Lula. Já temos o Bolsa Família de R$ 600,00, com os complementos, toda a política de geração de emprego e, também, o Programa de Aquisição de Alimentos, as cozinha solidárias e as demais medidas de combate à fome.
Quais os próximos passos a partir da sanção presidencial? Já tem previsão de quando as cozinhas solidárias começarão a funcionar, efetivamente?
Nós queremos que seja o mais rápido possível. Eu estava conversando com o ministro Wellington Dias (ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do Brasil) agora há pouco para já, a partir de agosto, ver se a gente faz os primeiros pilotos de cozinha solidária como política pública no Brasil. Para que entre com tudo no orçamento do ano que vem e possa ser uma política mais vigorosa.
Não posso perder a oportunidade de pedir a sua análise sobre o resultado da pesquisa divulgada nesta semana, realizada pelo instituto Gerp, que reitera o seu nome como o preferido do eleitorado paulistano para a Prefeitura.
Lamentavelmente, a cidade de São Paulo em que eu nasci, cresci e vivo nela há 41 anos está abandonada. Nós temos uma gestão que tem muito dinheiro em caixa, são R$ 35 bilhões, e tem 51 mil pessoas morando na rua. Nós temos uma cidade que está largada, em termos de zeladoria, insegura… Hoje, o centro de São Paulo é o retrato desse caos, infelizmente. Eu acho que existe um desejo de mudança em São Paulo, a pesquisa mostra isso. Eu espero que esse desejo possa se traduzir, ano que vem, nas urnas.
Do ponto de vista político, existe uma resistência de uma ala do PT em apoiar o seu nome como cabeça de chapa para a disputa à Prefeitura de São Paulo por ser de outra legenda. Essa resistência tem diminuído com o tempo, mas ela ainda existe. Como o senhor avalia essa disputa no mesmo campo progressista?
O presidente Lula já se colocou em defesa da nossa candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2024. Assumiu o compromisso público do partido de apoiar o meu nome. A presidente Gleisi Hoffmann fez ontem (quarta-feira, 19) declarações muito fortes nesse sentido, de que esse questionamento do partido só serve à direita e ao atual prefeito, que é candidato à reeleição. Acredito que nós vamos construir uma ampla frente progressista em São Paulo.
(Foto: Ricardo Stuckert/PR)