Na sessão que aprovou os nomes de Gabriel Galípolo, para a diretoria de Política Monetária, e Ailton Aquino, para a diretoria de Fiscalização, senadores aproveitaram para criticar as elevadas taxas de juros no Brasil. Os dois serão decisivos na estratégia do governo de conseguir reduzir a taxa de juros na próxima reunião do Copom.
O plenário do Senado aprovou na tarde desta terça-feira (4) os dois primeiros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao corpo de diretores do Banco Central. Gabriel Galípolo, que até pouco tempo ocupava a Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda, vai assumir a diretoria de Política Monetária. Já o servidor de carreira Ailton Aquino dos Santos foi aprovado para a diretoria de Fiscalização. Foram 39 votos favoráveis e 12 contrários à nomeação do ex-número 2 da Fazenda. Para o servidor do BC, foram 42 votos favoráveis e 10 senadores votando contra.
A autarquia monetária vai contar agora com dois nomes indicados por Lula e outros sete indicados na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, incluindo Roberto Campos Neto. Na sabatina realizada durante a manhã no Senado, Galípolo e Ailton Aquino avaliaram positivamente as medidas do atual governo – especialmente o arcabouço fiscal que busca traçar o controle sustentável das contas públicas.
Críticas
Já durante a votação, alguns senadores aproveitaram o tema para questionar as altas taxas de juros praticadas no Brasil. O líder do MDB na Casa, Senador Eduardo Braga (AM), defendeu a convocação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para prestar esclarecimentos, não apenas sobre a taxa básica de juros, a Selic, cuja atribuição de elevar ou reduzir cabe ao Banco Central.
Dizendo-se favorável à independência do Banco Central, Braga ressaltou que o Senado cumpre o papel regulador da instituição. “A independência do Banco Central, prevista em lei, tem condicionamentos de prestação de informações de políticas monetárias e inflacionárias ao Senado da República e ao Plenário do Senado da República. Porque, afinal de contas, o Senado é o poder regulador da independência do Banco Central”.
Para Braga, o presidente do BC precisa explicar não apenas a taxa básica de juros, a Selic, que atualmente está em 13,75% ao ano, como também o alto custo do crédito no país. “No mês de abril, o crédito rotativo do cartão de crédito bateu 430% de juros ao ano. É exatamente aí que boa parte da classe média se financia, é exatamente aí que boa parte do varejo se financia, é exatamente aí que boa parte das pessoas das classes D e E, muitas vezes, se socorrem para comprar um remédio para salvar o seu filho”, comentou.
Copom
O Comitê de Política Monetária (Copom) – que decide a taxa básica de juros da economia a cada 45 dias – é formado pelo total de oito diretores e o presidente do Banco Central, atualmente Roberto Campos Neto. Ou seja, os dois nomes aprovados nesta terça-feira vão participar da próxima reunião, que ocorrerá no início de agosto. É nesse momento que é esperado o primeiro corte na taxa básica de juros desde o início do ciclo de alta, em janeiro de 2021, quando a Selic estava em 2%. Atualmente, a taxa básica está em 13,75% desde agosto de 2022.
A sinalização de corte veio da ata da última reunião. Na próxima decisão, além dos novos nomes na composição do Copom, outros dois movimentos devem reforçar a queda da Selic: a meta de inflação mantida em 3% para 2024 e 2025, bem como a movimentação final do arcabouço fiscal, que deve ser reavaliado pela Câmara ainda esta semana.
Gabriel Galípolo terá destaque em direcionar o debate técnico sobre juros, mas cada membro do Comitê tem autonomia na votação. Já Ailton Aquino assume a diretoria que é o principal braço do Banco Central na supervisão e monitoramento das instituições financeiras em áreas como modelo de negócios, liquidez e solvência.
Ailton Aquino dos Santos será a primeira pessoa negra a ocupar um cargo na cúpula do BC. Ele tem mais de 25 anos de casa, passando por cargos como auditor-chefe no Banco Central e chefe do Departamento de Contabilidade, Orçamento e Execução Financeira. O novo diretor de Fiscalização tem dupla graduação, em Ciências Contábeis e Direito, respectivamente na Universidade do Estado da Bahia e no UDF Centro Universitário. Ele possui também pós-graduação em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado da Bahia (1997), além de mais três especializações: Contabilidade Internacional, Engenharia Econômica de Negócios e Direito Público.
Além da Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo tem passagem na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), no Centro Brasileiro de Relações Internacionais e no Banco Fator. Ele também já foi titular das secretarias de Economia e de Transportes no governo estadual de São Paulo. É graduado em economia e tem mestrado em economia política.
Confira a diretoria atual e até quando cada um ficará no cargo
- Roberto Campos Neto – Presidente do BC – com mandato até dezembro de 2024;
- Fernanda Magalhães Rumenos Guardado – Diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos – com mandato até dezembro de 2023;
- Maurício Costa de Moura – Diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta – com mandato até dezembro de 2023;
- Carolina de Assis Barros – Diretora de Administração – com mandato até dezembro de 2024;
- Otávio Ribeiro Damaso – Diretor de Regulação – com mandato até dezembro de 2024;
- Diogo Abry Guillén – Diretor de Política Econômica – com mandato até dezembro de 2025;
- Renato Dias de Brito Gomes – Diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução – com mandato até dezembro de 2025.
Nomes aprovados nesta terça-feira (4)
- Gabriel Muricca Galípolo – Diretor de Política Monetária – com mandato até março de 2027;
- Ailton Aquino dos Santos – Diretor de Fiscalização – com mandato até março de 2027.
(Foto: Mateus Mello/Poder360)