Representantes de várias casas legislativas afirmam que o pastor incitou fiéis a causarem danos à comunidade LGBTQIA+ em uma de suas igrejas nos Estados Unidos
O Ministério Público de Minas Gerais abriu um inquérito para investigar o pastor evangélico bolsonarista André Valadão por suas declarações durante um culto religioso em Orlando, nos Estados Unidos. O Ministério Público também analisa um pedido de prisão feito pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP). A denúncia aponta que Valadão cometeu um crime de homotransfobia durante a transmissão de um culto ao vivo no último domingo (2). No inicio da transmissão intitulada “teoria da conspiração” o líder da Igreja Batista da Lagoinha atacou a legalização do casamento entre pessoas, afirmando que isso teria dado início a uma onda de “homens e mulheres nuas com seus órgãos genitais completamente expostos dançando na frente de crianças” e insinuou que os evangélicos deveriam matar a população LGBT+.
“Agora é a hora de tomar as cordas de volta e dizer: Pode parar, reseta! Mas Deus fala que não pode mais”, afirma o pastor. “Ele diz, ‘já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso’, agora tá com vocês”. Ao final, Valadão retoma a frase e diretamente incita os fiéis a agirem: “não entendeu o que eu disse? Agora, tá com vocês! Deus deixou o trabalho sujo para nós”.
“É importante dizer que a fala, independentemente do contexto em que foi dita, apresenta um perigo de absoluta preocupação, sobretudo no contexto em que o Brasil figura no topo da lista de países que mais matam e violentam pessoas LGBTQIA em todo o mundo”, disse a deputada Erika Hilton no documento apresentado ao Ministério Público.
Valadão é líder da Lagoinha Global e foi um dos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) na última eleição. O pastor bolsonarista deve enfrentar mais processos, já que parlamentares de várias casas legislativas também anunciaram que irão representar criminalmente contra ele. O senador Fabiano Contarato (PT-ES) já apresentou uma denúncia no Ministério Público Federal, que ainda não se pronunciou sobre o caso. “Apesar de ele estar nos Estados Unidos, os telespectadores estão no Brasil, e o Judiciário brasileiro já tem jurisprudência para tratar casos assim. Além disso, a homofobia pode ser enquadrada como crime de racismo, previsto na Lei 7.716/89, com penas que podem chegar a 5 anos de prisão”, afirma Contarato.
A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) também anunciou que faria nesta terça-feira (3) uma denúncia junto ao gabinete da deputada estadual por Minas Gerais Bella Gonçalves (PSOL). “É inadmissível! Nosso mandato vai instruir com esses novos fatos a representação que já fizemos junto com outras deputadas no MPMG”, disse Bella. Ainda em Brasília, o deputado distrital Fábio Felix (PSOL) encaminhou uma representação à Procuradoria da República do Distrito Federal citando diversos crimes cometidos por Valadão durante o seu discurso. “Nosso mandato entrou com uma representação no Ministério Público contra André Valadão pelo crime de LGBTfobia. Nossas vidas importam e não podem ser atacadas com um suposto discurso de liberdade religiosa. Incitar o extermínio de um grupo social é um dos crimes mais bárbaros!”, disse.
(Foto: Reprodução/Youtube Lagoinha USA)