O ministro da Justiça e Segurança Pública foi questionado nesta sexta-feira (16) sobre a operação que mirou o senador no âmbito do inquérito sobre atos antidemocráticos
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, comentou, nesta sexta-feira (16), a investigação da Polícia Federal (PF) que teve como alvo o senador Marcos do Val (Podemos-ES) sobre suposto plano de golpe de Estado e postagens nas redes sociais que atentaram contra democracia. Na tarde de quinta-feira (15), a PF cumpriu três mandados de busca e apreensão em endereços do senador. Os investigadores foram ao apartamento funcional do parlamentar na capital federal e na casa dele, no Espírito Santo, além do seu gabinete no Congresso Nacional.
Segundo o ministro, operações policiais e política são coisas diferentes, e a PF cumpre ordens judiciais independentemente de quem seja o alvo. Sem citar o nome do senador Marcos do Val, o ministro frisou ainda que “esse senhor e outras pessoas que sejam investigadas que respondam perante a polícia e perante a Justiça”. “Eu não tenho, como integrante do governo, de responder sobre questões políticas. Porque polícia é um âmbito, política é outro âmbito. A nossa posição política, a posição do presidente Lula, é de proteger a democracia e a Constituição”, respondeu Dino ao ser questionado por jornalistas após evento de lançamento do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) em Palmas, Tocantins.
Dino ainda rebateu a acusação de Do Val de que a operação seria uma “emboscada”. “Temos um Poder Judiciário independente, temos uma Polícia Federal que cumpre as ordens judiciais e realiza as investigações independente de quem seja a pessoa investigada” disse. “Os problemas de polícia, esse senhor e outras pessoas investigadas que respondam perante a polícia e a Justiça”, concluiu.
Processo
As medidas tomadas contra o senador foram deferidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Do Val também teve o aparelho celular apreendido e as contas das suas rede sociais (Twitter, Instagram e Facebook) bloqueadas. Do Val vinha usando suas redes para atacar o STF e outras instituições. Ele também divulgou um relatório sigiloso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no Twitter nessa quarta-feira. O parlamentar chegou publicar posts chamando Moraes de “traidor da pátria” e minimizado o financiamento dos atos na frente dos Quartéis-Generais.
Em abril, o senador publicou em suas redes uma montagem em que que colocava o presidente Lula imobilizado no chão, com pés e mãos amarrados e a legenda “O título está livre”. O parlamentar usou como base uma foto original do período em que integrava a Swat — grupo especializado da polícia norte-americana — e trocou o rosto do colega pelo de Lula.
No início de fevereiro, Moraes havia determinado a abertura de uma investigação sobre o relato de Do Val a respeito de uma suposta articulação de um golpe, com a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro e do ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ). O ministro do STF afirmou que, no primeiro depoimento do parlamentar à PF, prestado no fim de janeiro, ele apresentou “uma quarta versão dos fatos por ele divulgados”, ressaltando que todas foram “antagônicas”, e que por isso é preciso investigar os crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação no curso do processo.
Moraes também determinou que a revista Veja e as emissoras CNN e GloboNews enviassem a íntegra de entrevistas concedidas por Do Val. A Meta, empresa controladora do Facebook, também deveria enviar uma transmissão realizada pelo senador na qual falou pela primeira vez sobre a suposta articulação.
O relato de Do Val vinha sendo investigado em um inquérito que apura a responsabilidade de autoridades do Distrito Federal — como o governador afastado Ibaneis Rocha e o ex-secretário Anderson Torres — nos atos terroristas do dia 8 de janeiro. Na ocasião, Moraes determinou a criação de uma petição, nome dado para um tipo procedimentos que tramitam no STF, que corre em sigilo.
Marcos Do Val denunciou que teria participado de uma reunião golpista com Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira para tentar gravar de maneira escondida Moraes — e forçá-lo a falar algo que poderia ser usado como uma espécie de admissão de alguma irregularidade no processo eleitoral e, com isso, evitar a posse de Lula. De acordo com o senador, ele poderia usar equipamentos do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para gravar conversas com o ministro. (Foto: Reprodução)