Jurados demoraram três horas para decidir que Trump foi culpado no caso da ex-jornalista E. Jean Carroll. O ex-presidente dos EUA sempre negou que tivesse cometido abuso sexual.
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump foi considerado culpado, nesta terça-feira (9), por uma Corte Federal de Manhattan por ter abusado sexualmente de E. Jean Carroll. A ex-jornalista acusava o republicano de tê-la estuprado em uma loja de departamentos de Nova York, em 1995 ou 1996, e, posteriormente, difamado a vítima. O magnata republicano terá que pagar a Carroll US$ 5 milhões (cerca de R$ 25 milhões) em indenização — US$ 3 milhões por difamação e US$ 2 milhões pelo abuso sexual. O júri federal, no entanto, o considerou inocente pelo suposto estupro.
O grupo de nove jurados demorou apenas três horas para deliberar. Eles tiveram que responder se Trump estuprou, abusou sexualmente ou forçou contato com Carroll, e decidiram que ele abusou sexualmente dela, mas não a estuprou. Trump sempre negou que tivesse abusado sexualmente de Carroll. Steven Cheung, um porta-voz de Trump, afirmou que o ex-presidente vai recorrer. Até uma decisão de instância superior, ele não precisará pagar os US$ 5 milhões.
Por se tratar de um julgamento civil, ele não será condenado à prisão pelo crime. Possível candidato à eleição presidencial de 2024, o político enfrenta uma série de problemas com a Justiça pela retenção e posse de documentos confidenciais depois de sua saída da Casa Branca e por supostamente instigar os simpatizantes a invadirem o Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Trump também foi indiciado por comprar o silêncio de uma atriz pornô com quem teria mantido um relacionamento extraconjugal.
Donald Trump disse que a sentença de um tribunal de Nova York que o declarou responsável de abuso sexual é uma vergonha (para a Justiça, não para ele). “Não tenho absolutamente nenhuma ideia de quem é esta mulher”, afirmou ele em sua rede Truth Social, ao se referir à acusadora, a ex-jornalista E. Jean Carroll. “Este veredicto é uma vergonha”, disse.
O caso
Jean Carroll, de 79 anos, processou Trump em 2022, alegando que ele a estuprou no vestiário da loja de luxo Bergdorf Goodman, em Nova York, em 1995 ou 1996. Ex-colunista da revista Elle, ela também afirma que Trump a difamou depois que ela tornou pública sua acusação em um livro que ela publicou em 2019, “Para que precisamos de homens? Uma proposta modesta”. A escritora disse, durante o julgamento, que não tinha ido nem à polícia nem ao hospital após o caso. Ela afirmou também que publicou a história no livro inspirada no movimento Me Too, de denúncias contra abusos sexuais. “Levei muito tempo para perceber que ficar em silêncio não funciona”, disse ela.
No julgamento, Trump afirmou que tanto Carroll quanto outra mulher que testemunhou que ele a havia agredido sexualmente não eram seu tipo — definição que ele também aplicou, voluntariamente, à advogada que conduzia o depoimento. Para um júri que avaliava se Trump era o tipo de pessoa capaz de abuso sexual — ou, pelo menos, se ele tinha mais credibilidade do que a pessoa que o acusava —, foi sem dúvida uma atitude equivocada. Ele também identificou erroneamente uma fotografia de Carroll como sendo de sua ex-mulher, Marla Maples, comprometendo diretamente a afirmação de que “não é o seu tipo”.
Repercussão
Aparentemente, a base de Trump continua estável no Partido Republicano, já que seus aliados são críticos ao sistema judiciário americano e defendem o ex-presidente, independente das acusações. Mas esta rede de apoio já se mostra um pouco estremecida e com possibilidade de rachar ainda mais a longo prazo. A resposta de dois senadores republicanos, por exemplo, já aponta o risco que este momento representa para a candidatura de Trump à Casa Branca em 2024. “Tem um efeito cumulativo”, disse o senador John Thune, de Dakota do Sul. “As pessoas vão ter que decidir se querem lidar com todo o drama.”
John Cornyn, do Texas, disse: “Acho que ele não consegue ser eleito. Você não consegue ganhar uma eleição geral apenas com sua base.” No fim das contas, Trump pode ter sido seu pior inimigo neste caso. O ponto central do processo movido por Carroll foi o depoimento do ex-presidente, no qual ele parecia, ao mesmo tempo, depreciativo e defensivo. Ele explicou que o infame vídeo “Access Hollywood”, no qual se gabava de agarrar as mulheres pelos órgãos genitais, refletia uma verdade histórica sobre o poder das celebridades — “infelizmente ou felizmente”.