(*) Glauco Alexander Lima (São Paulo) – Se fazer comunicação de governo sempre foi um campo minado de conflitos e suadeira, hoje em dia, com a explosão da quantidade de mídias e a facilidade de produzir e disseminar conteúdos, vivemos tempos alucinantes, quase insanos.
A televisão aberta ainda é a maior força? O rádio ainda serve? É preciso ter site? Como furar as bolhas nas redes sociais na web? Como usar bem os aplicativos de mensagem?
Toda hora surge uma verdade nova, uma ferramenta mágica e um iluminado que já chega repetindo o slogan das Organizações Tabajara: seus problemas acabaram!
Mas no campo da comunicação de governo, o gestor precisa organizar o pensamento, o modelo mental e pensar primeiro em governo, depois em comunicação.
Nunca o contrário!
Pensa-se pouco em governo nesses tempos de gestores-comunicadores, de vídeo selfies, de ao vivo toda hora, de incêndios para apagar a cada minuto. Não existe propaganda criativa sempre produto criativo. Isso serve para confeitarias, escolas de idiomas, bancos, detergentes, prefeituras, governos de estado e governo federal.
O produto de um governo é governar bem, esse é fundamento da comunicação de governo. Tudo num governo comunica.
Tudo!
Desde a sala de espera numa unidade de saúde, o zelo com um carro da polícia, até a poda das árvores ou os programas de transferência de renda.
Ou seja, os verdadeiros criativos da comunicação de governo são primeiramente o gestor, seus secretários/ministros e seus técnicos em todas as áreas de gestão.
Todos os estudos de investigação de opinião, sejam quantitativos ou qualitativos, mostram que as pessoas reconhecem que não se pode resolver todos os problemas da noite para o dia.
O que as pessoas querem é perceber empenho e sinceridade na busca pela solução ou, pelo menos, amenização dos problemas. E esse empenho só é percebido com ideias inovadoras de governo. Ideias que mostrem que, mesmo com limitações orçamentárias, políticas, culturais ou de qualquer outra ordem, a gestão é engenhosa na busca para amenizar as dores da população.
Criatividade para reduzir a fila de espera por creches, por exames de análises clínicas, para reduzir a evasão escolar, para reduzir os preços dos alimentos ou para enfrentar o déficit habitacional. As novas tecnologias precisam ser absorvidas para ajudar nessas ações inovadoras de gestão.
E não apenas para ficar enchendo a time line ou o celular das pessoas de propaganda previsível e não compartilhável de governo.
Vivemos uma guerra insana de construções de narrativas, de disseminação de teorias da conspiração que abalaram até a confiança nas vacinas. Uma onda de distorção da informação, uma confusão imensa nos conceitos de verdade e mentira.
Mas se o governo for criativo na forma de governar, se mergulhar nas ciências da gestão, se tiver uma firme linha política orientadora, entender bem o orçamento, as relações com o legislativo e o judiciário, se souber transformar garrafas pet em telhas para casas populares, limões em deliciosas limonadas na merenda escolar, propaganda em prestação de serviço, orientadora, a realidade sempre vai falar mais alto, sempre vai comunicar de forma incontestável.
O governo criativo comunica com obras, serviços, programas sociais, mudanças para melhor, novidades, surpresas boas. A comunicação fortalece essa percepção disso tudo. Para isso as gestões públicas não podem esperar pelo dia que todas as pessoas concordem.
Sempre haverá um percentual irrecuperável, que irá dizer que é bijuteria o dia em que o governo fizer chover ouro.
É preciso não gastar tempo e dinheiro tentando reverter essas opiniões e trabalhar para manter o que já se tem, e o melhor, ganhar os que ainda estão dispostos a ouvir e dialogar.
Um governo criativo vai facilitar muito o trabalho de comunicação. Mas não dispensa a necessidade de dar publicidade, de prestar contas, de conquistar mais gente para ajudar a disseminar as verdades.
Já o contrário, uma comunicação volumosa, que não está embasada em verdades inquestionáveis, vai trabalhar mais contra do que a favor da gestão.
Mesmo que a inovação, a originalidade de governo, seja fazer apenas o feijão com a arroz bem gostoso, bem temperado, isso já irá comunicar muito.
Por isso é preciso ter cuidado para, na ânsia de ser inovador, acabar mexendo com aquilo que está dando certo, só porque foi feito pelo adversário eleitoral.
A boa comunicação de governo ideal hoje é aquela que tem preparo técnico, que entende de formatos, mídias, ferramentas, linguagens, mas que está comprometida com os propósitos de gestão, entende os diferenciais, os atributos únicos, a inventividade para resolver e saber colocar essas verdades na cabeça e no coração das pessoas. Mas sempre lembrando que, sem verdades emocionantes para contar, muita propaganda é só tiro no pé. (Foto: Reprodução)
(*) Publicitário, consultor e gestor de comunicação institucional, política, eleitoral.