Oposição tenta encurralar Flávio Dino e passa vergonha

Ministro da Justiça participou nesta terça de uma audiência na CCJ e não deixou parlamentares sem resposta

 

Uma tarde agitada, marcada por bate-bocas generalizados, carregado de muitos gritos e palavrões, entre parlamentares bolsonaristas e membros da base do governo. Assim foi a ida do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, nesta terça-feira (28), à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados. Os opositores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizeram provocações ao ministro, que não se melindrou com os ataques e devolveu na mesma moeda.

O desentendimento começou durante a primeira parte do depoimento na audiência, quando o chefe da Justiça respondia a sua visita à comunidade da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Os deputados bolsonaristas voltaram a disseminar fake news ao dizerem que Dino teria feito um acordo com traficantes do local para visitar o complexo. Na verdade, o ministro havia avisado previamente às autoridades de segurança sobre o encontro com lideranças da comunidade e refutou. “Eu tenho família, não posso permitir isto, seria aceitar mentiras”, destacou.

O ministro disse ainda ser “esdrúxulo” criminalizar não só sua visita, mas também as pessoas que moram na região, “como se todos fossem criminosos e não são, é um preconceito”. Ele afirmou que irá aceitar novos convites para visitar outras comunidades e defendeu novamente os moradores. “Criminalizar os mais pobres é estimular a violência contra eles, à violência, a morte, o tiroteio. Não me parece adequado a agentes públicos”, reiterou.

Neste momento, o deputado Carlos Jordy (PL-RJ) interrompeu o ministro e começou a gritar no plenário da comissão. Ele disse que seria impossível entrar na Maré sem autorização dos traficantes. No local, a deputada Carolina de Toni (PL-SC) também se exaltou, fazendo diversas interrupções e acusando Dino de saber previamente dos atos terroristas de 8 de janeiro. O presidente da CCJ, Rui Falcão (PT-SP), precisou interromper a fala de Dino e ordenar o desligamento dos microfones dos deputados bolsonaristas.

Outros dois deputados, Alfredo Gaspar (União Brasil-AL) e André Fernandes (PL-CE), também tentaram tumultuar a audiência e receberam as respostas mais duras do ministro. Gaspar questionou se o ministro terá “macheza” para combater o crime organizado da mesma forma com que o governo tratou os manifestantes golpistas presos em Brasília em janeiro. “Eu queria saber também, ministro, se o senhor vai usar essa sua macheza, que botou um monte de velho e menino em um ônibus e levou tudinho para a Academia Nacional de Polícia, se o senhor vai usar também isso contra as organizações criminosas, se vai ser na bala, na borracha, na força”, perguntou.

Dino respondeu ao questionamento homofóbico colocando em dúvida o real interesse do deputado em relação a sua masculinidade. “Eu acho engraçada a indústria das fake news na política. Fizeram essa ideia de que não tinha escolta policial, o que é mentira. O senhor me pergunta se eu tenho muita macheza. Se o senhor está interessado nesse assunto, eu informo que não estou interessado nesse assunto. Sobre esse aspecto informo ao senhor: eu não tenho medo de ninguém e nem de nada”, disse o ministro.

 

Flávio Dino para deputado bolsonarista André Fernandes: ‘No mesmo continente mental de quem acha que a Terra é plana’. (Foto: Reprodução/Agência Câmara)

Terra Plana

Já André Fernandes questionou a quantidade de processos judiciais que o ministro responde. “O senhor acabou de falar que não responde a nenhum processo, mas o Jusbrasil diz que o senhor responde a 277 processos. São poucos, acredito que o senhor tenha esquecido”, disse. Flávio Dino explicou que usaria o exemplo como piada para seus alunos de direito, já que o Jusbrasil, disse ele, cita envolvidos em qualquer processo, como autor, testemunha, juiz, e que o número elevado não se refere à quantidade de processos em que ele é réu efetivamente.

“O senhor acaba de entrar no meu livro de memórias. O Jusbrasil, deputado, quando bota o nome, não aparece por nome de quem respondeu a processo. Aparece o nome de quem pediu direito de resposta na Justiça, aparece o nome de quem foi requerido o pedido de resposta, aparece o nome de quem registrou a candidatura, aparece o nome de quem prestou contas na Justiça Eleitoral, aparece o nome de quem foi testemunha no processo e, a essas alturas, dizer com base no Jusbrasil que eu respondo a 277 processos, se insere mais ou menos no mesmo continente mental de quem acha que a Terra é plana. E claro, olhando nos seus olhos, eu sei que o senhor sabe que a Terra é redonda”, rebateu.

Deputado Nikolas Ferreira foi chamado pelos pares de ‘Chupetinha’ e ‘Nicole’. (Foto: Reprodução/Agência Câmara)

Constrangimento

A sabatina ao ministro Flávio Dino iniciou às 14h e durou mais de quatro horas. Em outro momento o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) foi chamado de “chupetinha” e “Nicole” por colegas da Casa enquanto tentava fazer seu pronunciamento. “Posso continuar?”, indagou Nikolas após ser interrompido. “Vai, chupetinha”, respondeu um parlamentar. No vídeo disponibilizado pela TV Câmara, a primeira impressão é de que o presidente da Comissão, Rui Falcão (PT-SP), disse a frase, mas não é possível atribuí-la a ele com base somente na gravação. Inclusive, Falcão foi às redes sociais nesta noite negar que tenha saído da boca dele esta expressão.

“Aí eu não compreendi, senhor presidente”, disse então o bolsonarista. “Pode continuar, eu falei”, disse o presidente da CCJ.

As piadas fazem alusão a um suposto vídeo íntimo de Nikolas que vazou no ano passado em que o bolsonarista aparece fazendo sexo oral em outro homem. Nikolas diz que trata-se de uma montagem. Já a expressão “Nicole”, foi o nome que o próprio deputado se denominou quando subiu à tribuna da Câmara no Dia das Mulheres com uma peruca loira e se apresentou: “Hoje eu me sinto mulher, deputada Nicole”, disse o deputado ironizando, na ocasião, as mulheres trans.

 

(Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

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