Luiz Inácio da Silva, na solenidade de diplomação, nesta segunda-feira (12), não conseguiu conter a emoção.
Após receber o diploma das mãos do presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, o presidente eleito, com a voz embargada, não segurou as lágrimas, ao lembrar discurso de sua primeira diplomação.
Enfatizando as mesmas palavras utilizadas naquele final de 2002, ainda em retrospectiva à perseguição sofrida e prisão, Lula reafirmou o compromisso com o país e a honra de ser escolhido pelos brasileiros pela terceira vez.
“Na primeira diplomação, lembrei da ousadia do povo brasileiro por conceder a alguém que não tem diploma universitário o diploma de presidente”, falou, interrompendo a frase pela emoção, e pedindo desculpas pelo choro: “Quem passou pelo que eu passei, sabe que Deus existe e que o povo brasileiro é maior”, disse.
Ainda ao entrar no palco, foi recebido no Plenário do TSE amplamente aplaudido e ovacionado pela plateia com: “Boa tarde, presidente Lula”, em referência aos cumprimentos da “Vigília Lula Livre“, acampamento formado por militantes nos 580 dias de sua prisão.
A cerimônia de diplomação oficializa o resultado das urnas e é um rito oficial importante, que autoriza Lula tomar posse no próximo dia 1º de janeiro.
“Antes de iniciar a leitura do meu discurso, eu quero, em nome do meu partido, que vocês saibam que esse diploma que recebi é o diploma de uma parcela significativa do povo que reconquistou o direito de viver dignamente nesse país. Vocês ganharam esse diploma.”
O discurso proferido por Lula foi plural, empenhado na reestruturação democrática, com o diálogo entre as esferas, no presidencialismo junto ao Congresso e ao Judiciário. Em claras referências ao retrocesso e às táticas empregadas pelo seu adversário, Jair Bolsonaro, com a violência política, a disseminação de Fake News e tentativa de não aceitação dos resultados das urnas, o presidente eleito também falou sobre a ruptura democrática que significou a atual gestão.
Como referência dos lemas da transição da ditadura do regime militar do país, Lula falou que é preciso, mais uma vez, “tirar lição desse período recente, para que nunca mais esquecemos, para que nunca mais isso aconteça”.
“Poucas vezes, a democracia esteve tão ameaçada e a vontade popular foi colocada tão à prova. A democracia não gera por decisão espontânea, precisa ser semeada, cultivada, para que a colheita seja generosa para todos. Mas a democracia precisa ser todos os dias defendida, daqueles que tentam a todo custo sujeitá-la a seus interesses financeiros e ambições de poder.”
Sobre Bolsonaro, disse que ele deixou no país um “legado perverso, que recai sob a população mais necessitada, com o ataque sistemático às instituições democráticas”. Mas que “não são características exclusivas do nosso país”, e que há um “imenso desafio” a ser enfrentado pelo mundo, em referência aos ataques às democracias e avanços da ultradireita global. “Talvez mais difícil [o desafio atual] do que após a Segunda Guerra Mundial, que usam e abusam com a manipulação, disseminação de mentiras, uma máquina de ataques à democracia que não tem pátria, nem fronteiras.”
Diante disso, ressaltou que “a importância do Brasil nesse cenário global é inegável” e que o país será capaz de liderar esse enfrentamento, buscando uma “legislação internacional mais dura e mais eficiente” e “de insituições fortes e representativas, com um eficiente sistema de pesos e contrapesos, que iniba qualquer aventura eleitoral”. “Precisamos de coragem”, completou.
“É com o compromisso de construir um verdadeiro estado democrático que recebo pela terceira vez o diploma de presidente eleito do Brasil, em nome da liberdade, da dignidade e da felicidade do povo brasileiro, muito obrigado”, concluiu.
Plateia lotada
Cerca de 1.000 pessoas foram convidadas, mas estima-se que pouco menos da metade estiveram presentes.
Na plateia, entre os apoiadores de Lula, representantes de, ao menos, 14 partidos que formaram aliança à chapa de Lula e Alckmin.
O primeiro a entrar no Plenário, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, também foi amplamente aplaudido de pé.
A sessão teve início pouco após às 14h, no plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em sessão presidida pelo ministro Alexandre de Moraes. (Foto Secom TSE)