O pleito de 2024 registrou o maior índice de reeleição da história: 81,4%. Líderes no ranking de recursos conquistaram média de 72% dos votos válidos em seus municípios no pleito de domingo
Os 116 prefeitos mais beneficiados com emendas parlamentares de 2021 a 2024 levaram ampla vantagem na renovação dos seus mandatos nas eleições deste último domingo (6). Neste grupo de campeões de “emendas Pix” — recursos enviados por parlamentares diretamente para o caixa das prefeituras — taxa de reeleição foi de 98%. Apenas deles não tiveram sucesso. Essa análise foi revelada nesta quarta-feira (9) pelo jornal Folha de São Paulo.
Os líderes nesse ranking do valor de emendas por eleitor conquistaram uma média de votos válidos elevada, de 72% nas urnas. A certeza de reeleição já era dada para 12 deles, que esvaziaram as oposições locais durante o mandato e eram candidatos únicos. A eleição municipal de domingo foi a primeira que sofreu um grande impacto da mudança iniciada no governo de Jair Bolsonaro (PL) que deu aos congressistas papel inédito na destinação das verbas federais.
A medida resultou na distribuição total de mais de R$ 80 bilhões em emendas para os 5.569 municípios brasileiros desde o início das gestões dos atuais prefeitos, de 2021 a 2024. Nesse grupo dos prefeitos mais turbinados, os valores recebidos em emendas passaram de R$ 2.543,70 por votante, mais que três vezes o padrão mediano nacional (o valor do meio de todas as cidades), que é de R$ 847,90.
Dentre os prefeitos mais beneficiados com emendas, os dois únicos que não conseguiram se reeleger foram Izael (União Brasil), em Cabixi (RO), e Cássio Cursino (PSD), em Sítio do Mato (BA). A reportagem da Folha de São Paulo analisou também outros grupos de prefeitos que estão em faixas elevadas de recebimento de emendas, e eles também apresentaram altas taxas de reeleição. Entre os 274 prefeitos que receberam de R$ 1.695,80 a R$ 2.543,70 por eleitor ao longo do mandato, o índice de recondução foi de 91%.
Independentemente da faixa de valor recebido por eleitor, esses prefeitos turbinados têm algo em comum: todos tiveram um índice de reeleição superior à média de todos os prefeitos do país, que neste ano foi de 85%. Para identificar esse índice, a reportagem considerou a quantidade de chefes dos Executivos eleitos em 2020 que cumpriram todo o mandato desde o início das gestões.
O sucesso de reeleição dos prefeitos turbinados com emendas chega a ser até 20 pontos percentuais maior do que os chefes do Executivos municipais que receberam, por votante, um valor menor do que a mediana brasileira. Dentre esses abaixo da mediana, a taxa de reeleição foi de 78%.
O prefeito e candidato de Bituruna (PR), a segunda cidade mais beneficiada por emendas no ranking, teve uma vitória expressiva no pleito do último domingo. Rodrigo Rossoni (PSDB) obteve 75% dos votos na cidade do interior do Paraná, ante 19% conseguido por Nelson Liber (PT) e 5% por Marcos Bertoletti (PDT).
Conhecido pela tradição vinícola, o município recebeu R$ 83 milhões em emendas nos últimos quatro anos, basicamente R$ 6.455,30 por eleitor. A quantia é 661% acima do valor mediano do país. No município, ocorreu um fato que chama a atenção no sistema das emendas: o grande direcionamento de recursos para parentes de deputados e senadores que governam municípios.
Em seu mandato municipal, 43% do valor recebido em emendas tiveram como autor o pai dele, Valdir Rossoni, no período em que ele exerceu o cargo de deputado federal pelo PSDB. O total enviado pelo pai em valores absolutos foi de R$ 35 milhões. A reportagem procurou Rossoni por meio da assessoria da prefeitura nesta terça-feira (8), mas o prefeito não se manifestou.
O município mais beneficiado por emendas no país, Barra D’Alcântara (PI), teve candidato único. O prefeito da cidade, Mardônio Soares (MDB), teve a vitória chancelada por 2.411 votantes no universo de 3.600 eleitores. Situado a cerca de 230 km de Teresina, o município emancipado em 1997 recebeu um total de R$ 23 milhões de emendas parlamentares nos últimos quatro anos.
Esse tipo de emenda Pix, em que o congressista padrinho da remessa não precisa explicar como o dinheiro será utilizado, passou a ser alvo do Supremo Tribunal Federal (STF) pela baixa transparência na remessa de verbas.
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