Com Trump, sentimento antiamericano cresce e reputação dos EUA cai

Por Guilherme Lavorato    –   Desde que Donald Trump assumiu seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, em 20 de janeiro de 2025, o mundo parece estar respondendo de forma menos entusiasmada do que ele previu em seu discurso inaugural. A promessa de que os EUA seriam “a inveja de todas as nações” e voltariam a ser “a maior, mais poderosa e mais respeitada nação da Terra” vem enfrentando sinais evidentes de rejeição no exterior. Reportagem da BBC News Mundo, repercutida pelo g1, compilou dados e análises que apontam para três sinais claros de uma reação global negativa às políticas e à postura de Trump: derrotas eleitorais de aliados, perda de prestígio internacional e queda expressiva no turismo estrangeiro para os Estados Unidos.

Derrotas em países-chave – O impacto da figura de Trump já pode ser sentido em eleições recentes em países tradicionalmente alinhados aos Estados Unidos. No Canadá e na Austrália, os conservadores Pierre Poilievre e Peter Dutton, respectivamente, foram derrotados em disputas que ocorreram poucos meses após a posse de Trump. Ambos tinham perfis políticos próximos ao do presidente norte-americano e acabaram perdendo espaço para líderes de centro-esquerda: Mark Carney, no Canadá, e Anthony Albanese, na Austrália.

Carney, que assumiu o posto em março, se posicionou como o candidato capaz de conter os efeitos de políticas trumpistas, como a ameaça de tarifas de importação ou mesmo a absurda sugestão de anexação do Canadá aos Estados Unidos como um “51º Estado”. Segundo o professor emérito Steven Lamy, da Universidade do Sul da Califórnia, “Poilievre foi observado como próximo de Trump, nas suas posições políticas”, e isso acabou tendo um efeito negativo. “Quando Trump começou a brincar com Trudeau e pedir que o Canadá se transformasse no 51º Estado, aquilo foi demais para os canadenses, que têm orgulho do seu país”, disse ele à BBC.

Na Austrália, pesquisas indicaram que Albanese era visto como mais confiável para lidar com a nova gestão americana do que seu oponente conservador. Ainda que eleições em outros países, como Equador, Romênia e Inglaterra, tenham favorecido populistas ou a direita, os resultados em Canadá e Austrália, aliados históricos dos EUA, sinalizam uma mudança relevante na política externa em tempos de Trump.

Queda de prestígio internacional dos EUA – Outro termômetro da rejeição é a percepção global sobre o papel dos Estados Unidos no mundo. Segundo levantamento da empresa Ipsos realizado em 29 países, 26 deles registraram queda na parcela da população que acredita que os EUA terão “influência positiva” na próxima década. A média global caiu de 59% em outubro de 2024 para 46% em abril de 2025.

Os declínios mais acentuados foram registrados no Canadá (-33 pontos percentuais) e na Holanda (-30). Países da América Latina também acompanharam essa tendência: no México, a confiança na influência americana caiu 21 pontos; no Brasil, Colômbia, Chile e Peru, a baixa foi menos acentuada, mas perceptível.

“O que a pesquisa reflete é uma percepção negativa de Trump em todo o mundo”, declarou Clifford Young, presidente de pesquisas e tendências sociais da Ipsos. Para ele, a desconfiança está ligada tanto à agenda política quanto à imprevisibilidade do governo. “Tem muito a ver com a incerteza, com não saber exatamente o que irá ocorrer, econômica e politicamente”.

Pela primeira vez em uma década de levantamentos da Ipsos, a China superou os Estados Unidos como país com percepção mais positiva no cenário internacional: 49% dos entrevistados consideraram que a China terá impacto benéfico no mundo, um avanço de 10 pontos percentuais desde a última pesquisa.

Retração no turismo internacional – A rejeição global à imagem dos Estados Unidos sob Trump também atinge a indústria do turismo. A empresa Tourism Economics, ligada à Oxford Economics, reviu drasticamente suas previsões para 2025: em dezembro, esperava-se um crescimento de 8,8% nas visitas internacionais; em abril, a expectativa passou a ser de uma queda de 9,4%.

Entre os fatores apontados estão políticas imigratórias restritivas, variações cambiais e o clima de incerteza. “As políticas e declarações de Trump produziram uma mudança negativa do sentimento em relação aos Estados Unidos, entre os viajantes internacionais”, avaliou a empresa.

O Canadá lidera a queda: o número de turistas canadenses nos EUA despencou cerca de 20%. Reservas de voos vindos da Holanda, Alemanha, Equador e México também apresentaram reduções consideráveis.

Para Clifford Young, o recuo no turismo está diretamente relacionado ao desgaste da imagem do país. (Foto: Reprodução)

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