O ministro do Supremo Tribunal Federal finalizou a primeira audiência do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus parceiros, acusados de tentativa de golpe. A sessão foi suspensa após a apresentação das defesas dos acusados pela Procuradoria Geral da República e será continuada no período da tarde.
Variações de estratégias
Enquanto as defesas de militares como os generais Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira se apegam à delação de Mauro Cid para tentar livrar seus clientes, o advogado de Braga Netto chama o tenente-coronel de “mentiroso” e descredibiliza o acordo.
O advogado de Braga Netto considera Mauro Cid um mentiroso, uma vez que ele apresentou novos testemunhos e não incrimina o general. No entanto, quando se viu ameaçado de perder a parceria, Cid fez uma acusação significativa: o financiamento do crime.
O que o defensor de Paulo Sérgio Nogueira classifica como inferência no documento da Polícia Federal se apresenta, na realidade, da seguinte maneira:
O brigadeiro Baptista Júnior, que foi comandante da Aeronáutica, afirmou que questionou o ministro Paulo Sérgio durante uma reunião: “Este documento impede que o novo presidente eleito assuma o cargo?”.
Baptista Junior disse que, após sua pergunta, Paulo Sérgio permaneceu em silêncio, e com isso percebeu que poderia haver uma instrução que barraria a posse do novo governo escolhido.
Logo após, a testemunha informou que comunicou ao Ministro da Defesa sua recusa em aceitar o documento e declarou que a Aeronáutica não toleraria um golpe de Estado. Depois disso, deixou a sala, conforme relatado pela PF.
Braga Netto
O advogado de Braga Netto, José Luis Oliveira Lima, experiente profissional que já atuou em casos de figuras como Zé Dirceu, começou sua declaração defendendo o Supremo Tribunal Federal e criticando os ataques que a Corte vem sofrendo. Ele se junta a outros defensores ao afirmar que não tiveram acesso completo aos documentos. Contudo, José Luis Oliveira Lima isenta o ministro Alexandre de Moraes de qualquer responsabilidade, responsabilizando a Polícia Federal pelo ocorrido.
Testemunho de Cid
O advogado Andrew Farias, que representa o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, recorre também à delação de Mauro Cid como parte de sua defesa. Ele destaca, por exemplo, quando Cid menciona que o grupo ao qual o general pertencia era contrário a qualquer ação e temia que isso pudesse levar Bolsonaro a assinar algo imprudente. Farias utiliza seletivamente a delação e as evidências apresentadas nos processos.
Andrew Fernandes Farias, o jovem advogado do general Paulo Sérgio Nogueira, subiu ao palco como um coadjuvante que se dedica intensamente durante seu curto tempo de exibição. Fazendo menção a Hamlet e aumentando o volume da voz, Farias se destacou em seus 15 minutos, utilizando uma entonação enfática de indignação, mais do que alguns dos representantes de bancas renomadas, cujos honorários são avaliados em dezenas de milhões.
Um dos indivíduos mais mencionados durante o processo, Mauro Cid desapareceu por completo nesta terça-feira. Fontes das Forças Armadas que têm comunicação regular com o ex-assessor de Bolsonaro informaram que, atualmente, ele está “totalmente indisponível” e não respondeu a nenhuma das tentativas de contato por telefone.
O advogado de Bolsonaro explora diversas estratégias para salvaguardar a defesa do ex-presidente, abordando detalhes técnicos do julgamento e tentando contestar os argumentos apresentados pela denúncia da PGR. Celso Vilardi menciona, por exemplo, a possibilidade de nulidades, questiona a condução do caso pelo colegiado do STF, aponta que a PF pode ter utilizado “possivelmente” o termo várias vezes durante a investigação e recorda uma afirmação do ministro da Defesa de Lula, José Múcio, sobre a colaboração de Jair na transição entre os governos. Tais aspectos certamente ressurgirão ao longo do processo.
A segunda audiência do julgamento será retomada a partir das 14 horas desta terça-feira, 25.