0 carnaval não quer converter. Só verter!

(*) Glauco Alexander Lima    –  Todo ano, quando vai se aproximando o Carnaval no Brasil, aparecem, aqui e ali, as manifestações aborrecidas contrárias ao evento que acontece uma vez por ano, por alguns poucos dias.

 

Tem gente que reclama da bagunça, dos congestionamentos no trânsito, dos barulhos, esquecendo que a vida em sociedade é conviver com a diversidade que faz pulsar a batucada do estar vivo. Uma folia que vai dos festejos do campeonato de futebol às comemorações do vestibular, os gritos nos cultos a todo tipo de divindade.

 

Existem uns que reclamam do Carnaval porque ele seria coisa do diabo, e perturbador das religiões. O Carnaval não é contra os cristãos, nem contra judeus, nem muçulmanos, ou contra os tenrikyo. Embora tenha surgido como festa pagã, o Carnaval tem um pé cheio de ginga desde as festividades católicas durante a Idade Média.

 

No Carnaval, as pessoas abrem suas asas, soltam suas feras e exorcizam seus demônios. Ou seja, o Carnaval está mais para terapia do que para orgia ou heresia. Dessa forma, o Carnaval também é um retiro espiritual. Uma fuga momentânea da realidade, da formalidade, da falsidade, e talvez seja o único momento no qual se sai da fantasia do real para a fantasia de pirata ou bailarina cheia de purpurina.

 

Tem gente que reclama acusando o Carnaval de usar dinheiro público, dizendo que a verba da folia poderia ir para escolas, hospitais ou calçadas. Mas em muitas cidades, a movimentação turística do Carnaval gera arrecadação volumosa, que também ajuda a financiar escolas que não são de samba, assim como hospitais e calçadas.

 

Mesmo nos lugares bem menores, os desfiles de bloquinhos permitem que famílias pobres coloquem seu isopor vendendo cerveja ou um fogareiro de churrasco, gerando uma rendinha extra que pode tirar do SERASA a mãe abandonada pelo pai das cinco crianças.

 

O Carnaval não quer a conversão. O Carnaval é diversão. O Carnaval não é passeata. O Carnaval é desfile. Um folião de raça pulando seu frevo, ou seu samba reggae, não quer briga com ninguém. E se brigar, sente o cacetete do PM no couro suado.

 

O Carnaval não quer converter a senhora, nem o senhor. O bom e velho Carnaval é para verter. Deixar sair de si os líquidos contidos. Se derramar. Se espalhar, difundir o som. Entornar. Chover, jorrar. Transbordar. Desaguar.

 

E na quarta-feira, voltar para as cinzas do cotidiano. Pois como diz sabiamente a marchinha da quarta-feira de cinzas: Apesar da realidade, é preciso cantar. Mais do que nunca é preciso cantar, é preciso cantar e alegrar a cidade.

 

(*)Glauco Alexander Lima Operário do setor de comunicação

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